Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899 – Genebra, 1986) não foi somente um grande escritor, foi também um fenômeno cultural. Sua obra é dominada pelos contos e um pouco menos por poesia e outros gêneros literários. Criou um estilo difícil de ser imitado, mesmo que não pareça. Seus temas são incomuns, sua abordagem da realidade é incomum. Despertou grande curiosidade sobre o homem que foi, entre os que o leram e os que não o leram mas tiveram notícia de sua magnitude intelectual. Ele comentou sobre outros autores algo como: nem sempre é possível encontrar o escritor em sua obra. No caso dele há sempre muita incerteza quanto a formatos para sua identidade. Retratou-se no que produziu, talvez inevitavelmente. Há que se saber lê-lo também nesta dimensão, mas sem garantia de desenhos inequívocos. Lutou bravamente contra excessos narcísicos. Buscou no mundo que enxergou, com todos os olhares de que pode dispor (antes e depois de ficar cego) os elementos que o fizeram sentir que vivia e em que consistia isso. Aos setenta e um anos compôs este ensaio autobiográfico, não muito extenso, mas que permite entrever mais explicitamente aspectos de sua história e motivações. Fala sobre sua família, referência importante ao longo de toda a vida, suas origens, que mesclaram Inglaterra, Argentina e Uruguai, e relata certos eventos. Todavia, o destaque está na literatura que o formou e para a qual se destinou. Sua visão de mundo nunca dispensou poesia, inclusive na prosa. E ele viu muito. Fez parcerias marcantes para escrever, como com Adolfo Bioy Casares (Buenos Aires, 1914-1999), da qual parece ter surgido um terceiro autor, produto da incrível fusão. Foi lírico quando buscou o linguajar simples, foi límpido nas metáforas e construções míticas. Discorreu com grande originalidade sobre o que pareceu-lhe indispensável na tarefa de dar sentido ao que experimentou, ao que pressentiu, ao que imaginou. Teve vistas para a necessidade de ser amado e de amar, com toda a discrição. Não minorou as circunstâncias, mas nunca se resumiu a elas. Pelo que pode ver e contar mostrou ter sido atravessado pela eternidade. E teve a generosidade de compartilha-la.
Título da Obra: ENSAIO AUTOBIOGRÁFICO
Autor: JORGE LUÍS BORGES
Tradutores: MARIA CAROLINA DE ARAÚJO E JORGE SCHWARTZ
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
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