As crianças crescem melhor quando entram em contato com as boas leituras. Os pais podem ler para elas ou, melhor ainda, elas mesmas aprendem a mergulhar nas aventuras guardadas dentro dos livros. Experimentam modos únicos de arrebatamento. Divertem-se. Habilitam-se para explorar o que está dentro e fora delas. Ganham instrumentos para o manejo da realidade. Ao serem sensibilizadas para a riqueza que o entendimento do mundo pode ter, o que o hábito de ler pode favorecer bastante, desenvolvem as aptidões necessárias para a aquisição de informação, o exercício reflexivo e para buscar mais do que aquilo que é corriqueiro no viver. É muito bom começar cedo.
Autores que escrevem para crianças podem exercer papel importante na modelagem dos mundos dos que os leem. Vale muito o empenho que dedicam à criação de boas estórias, introduzindo ideias e estimulando afetos. É o caso de Sueli Duarte (São Paulo, 1950) no livro “A BIBLIOTECA ENCANTADA E A MAGIA DO GLOBO”.
O enredo traz a grande aventura dos irmãos Clara e Lucas ao encontrarem e adentrarem uma biblioteca que estava no espaço em que viviam, mas nunca tinha sido vista por eles. Era atraente, mas estava definhando. Conhecem Dona Margarida, uma simpática cuidadora do que resta da biblioteca. A senhora fala sobre o que está acontecendo no mundo dos livros e da leitura. Aponta para o fenecimento deste universo e de como os meninos poderiam interferir para salvá-lo. Mostra-lhes um globo dourado que abriga todas as estórias já escritas, com os portais para penetrar nas narrativas. Estas oferecem chances de viver a magia nas ficções e provavelmente em outras formas de narrativa. Dona Margarida instiga-os a salvarem o que está em risco de desaparecer e fornece-lhes uma pena capaz de avivar a imaginação, tão necessária à sobrevivência da capacidade de contar e de dar sentido ao que se lê (certamente também ao que se ouve e vê). No sucesso da empreitada Clara e Lucas são heróis da preservação da ideia de que desenvolver sensibilidade e talento para buscar o que está guardado nos livros. Algo tão importante para a civilidade e para a graça que se pode dar à vida.
“A BIBLIOTECA ENCANTADA E A MAGIA DO GLOBO DOURADO” contribui, de modo brilhante, ao voltar o olhar para possibilidades que parecem estar sendo abandonadas, talvez perdidas, na contemporaneidade. Tem como foco o que se está dando com o interesse pela leitura e pela aventura do conhecimento. A vocação neste sentido tende a ser mais robusta quando começa a ser promovida na infância. Isto não se dá automaticamente e é raro que seja obra do acaso, depende de ações intencionadas. É preciso que se ofereçam oportunidades às crianças, fomentando o esforço para o entendimento de ideias, sua interpretação, a criatividade, assim como, vínculos mais positivamente afetivos com o mundo no qual cada um existe e que inclui multidões de outros. É precioso poder acreditar que há “um melhor” e trabalhar para isto. Um desafio e um empreendimento que não cessa nunca. As recompensas podem ser vitais para o ser humano, para que o grande globo em que se vive sobreviva e mantenha-se iluminado.
O texto é amoroso e encantador. As ilustrações também.
Título da Obra: A BIBLIOTECA ENCANTADA E A MAGIA DO GLOBO
Autora: SUELI DUARTE
Ilustradora: ANGÉLICA SPADARI
Editora: PÁGINA 11
Estante do Justo 