AS ALEGRES COMADRES DE WINDSOR

“AS ALEGRES COMADRES DE WINDSOR” é uma das comédias de William Shakespeare (Stratford-upon-Avon, 1564 – 1616). Foi escrita no final do século XVI, talvez por solicitação da rainha Elizabeth I. Fala sobre questões de poder nas relações entre gêneros. Nisto embutem-se outros temas.

A trama está focada em trapalhadas do célebre personagem Falstaff, que aparece também em outras peças de Shakespeare e posteriormente numa ópera de Verdi. Ele é um cavaleiro, já envelhecido, sem noção clara da própria importância. Comporta-se como um aventureiro, falso conquistador, gabola. Talvez represente aspectos comuns dos homens, em estereótipos que não deixam de ter vínculos com a realidade. Hospedado em Windsor empreende manobras para seduzir duas mulheres casadas, as senhoras Page e Ford, ricas e já distantes da juventude. Escreve-lhes cartas idênticas, sem saber que elas são amigas e confidentes. É descoberto e as duas passam a pregar-lhe peças, ludibriando-o repetidamente. É enganado também pelo ciumento marido de uma delas, Ford, que passando-se por outro homem tenta saber o que se passa em sua casa e declara seu interesse em também conquistar a senhora Ford. Paralelamente, a filha do casal Page, Ana, é cortejada por diversos pretendentes. Dois escolhidos por cada um dos pais e um que é o preferido dela. No final, prevalece a vontade da moça, que se casa com quem deseja, Fenton, engodando os pais. As mulheres mais velhas, as comadres, divertem-se ridicularizando Falstaff. Revelam maior capacidade de percepção de seu mundo do que os personagens masculinos.  Elas exercem o controle, dominam a ação a despeito de eles acreditarem que lhes cabem as primazias. A perspicácia das três mulheres dá o tom ao enredo, assim como a de uma quarta, a senhora Quickly, que extrai benefícios insuspeitados do papel de alcoviteira.

É presumível que o maior intuito de Shakespeare fosse divertir as plateias, mas sempre fez mais do que isto. Nesta peça ele prestou homenagem ao poder feminino numa sociedade machista, tornou risíveis as crenças masculinas sobre sua suposta superioridade “natural”. Vale lembrar que a rainha Elizabeth I era a mulher mais poderosa da Inglaterra e uma governante de grande importância para todo o ocidente. Extremamente hábil, aprendeu a defender-se desde muito jovem, livrou-se de perigos e chegou ao trono, mantendo-o até morrer. Foi uma rainha absolutista, personalista e sagaz.

Apesar de ser considerada por muitos como uma das peças menores de William Shakespeare, “AS ALEGRES COMADRES DE WINDSOR” traz à cena assuntos importantes e perenes. Aponta para ilusões e parvoíces nos jogos de poder. Não nega as diferenças entre os gêneros ao exercerem seus papeis tanto em âmbito íntimo quanto público, com vantagens e desvantagens distintas, mas mostra que há anseios universais circulando nas relações humanas, para além da afirmação de direitos e deveres, para além do que se acredita ser próprio de convenções sociais e de contextos específicos. Exercer o poder parece ser um destes anseios.

Título da Obra: AS ALEGRES COMADRES DE WINDSOR

Autor: WILLIAM SHAKESPEARE

Tradutor: CARLOS ALBERTO NUNES

Editora: PEIXOTO NETO

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