DUPLICATAS

“Duplicatas” é o título de um dos contos de “Dublinenses” de James Joyce (Dublin, 1882 – Zurique, 1941). Mostra ao leitor um momento da vida de Farrington, funcionário de um escritório que poderia ser de advocacia ou de contabilidade, onde vive sob olhar crítico de seus colegas e a manifesta reprovação de um dos donos da firma. Ele não atende às demandas de seu cargo. É explicitado no conto que ele é bebe pesadamente, com muitos indícios de dependência do álcool.

A narrativa se passa num só dia, parte do tempo no escritório, depois em pubs e outros bares de Dublin, onde Farrington bebe com seus amigos, e finalmente ao retornar para casa, sem estar ainda tão embriagado quanto gostaria. Já gastou o dinheiro que do mês, vê a impossibilidade de obter um adiantamento no trabalho e penhora um relógio para ter como custear rodadas de bebidas daquele final de tarde e início de noite. Depois de percorrer vários estabelecimentos acaba se envolvendo numa disputa com um dos companheiros de farra. Fazem um jogo de braço e o protagonista é derrotado em mais de uma tentativa de vencer o homem mais jovem. No caminho de casa tem sentimentos de humilhação e raiva, tanto pelos eventos no escritório quanto pelo que ocorrera na noitada. Ao chegar, a esposa, com quem tem relacionamento conflituoso, não está, foi à igreja. Ela não deixou seu jantar pronto e ele, por muitas causas enfurecido, espanca pesadamente um dos filhos, quando a criança se propõe a preparar sua refeição.

Joyce não apresenta o personagem como vítima de uma vida opressiva, nem por ser um servo do álcool. Não é justificado por invalidez ou algo do gênero. Mostra-o como agente, responsável pelo que lhe acontece e por suas ações, mesmo que não o assuma. Um tipo de covardia leva-o à negligência consigo mesmo e com os que o cercam. Força física e violência parecem ser os seus últimos recursos, onde só obtém sucesso com o filho pequeno e vulnerável. Suas obrigações, assim como as expectativas de algo melhor para a vida, são como duplicadas vencidas sem o devido pagamento.

Na ilustração: foto de obra de Wassily Kandinsky (Rússia, 1866 – França, 1944)

Título da Obra: DUPLICATAS

Autor: JAMES JOYCE

Tradutor: CAETANO W. GALINDO

Editora: PENQUIN/COMPANHIA DAS LETRAS

Counterparts

“Counterparts” is the title of one of the short stories in Dubliners by James Joyce (Dublin, 1882 – Zurich, 1941). It captures a single day in the life of Farrington, a clerk in what might be a legal or accounting office, a man constantly under the critical gaze of his colleagues and the overt disapproval of one of the firm’s partners. Farrington fails to meet the demands of his position; as the story makes clear, he drinks heavily and shows every sign of being dependent on alcohol.

The narrative unfolds over the course of one day—beginning in the office, then moving through a succession of Dublin pubs and bars where Farrington drinks with his friends, and ending at home, where he arrives not as drunk as he would wish to be. Having already squandered his month’s wages, he fails to secure an advance from work and pawns his watch to finance another round of drinks that late afternoon and evening. After drifting from one establishment to another, he ends up in a contest of strength with a younger man. They arm-wrestle, and Farrington loses—repeatedly. On his way home, humiliated and seething with resentment over the day’s many defeats—those suffered at the office as well as those endured among his drinking companions—he returns to find that his wife, with whom he has a fraught relationship, is out at church. Dinner has not been left ready. Enraged by frustration, shame, and impotence, he takes out his fury on his small son, beating him savagely when the child offers to prepare the meal.

Joyce does not present Farrington as a victim of oppressive circumstance, nor merely as a slave to alcohol. He is not exonerated by hardship or any form of incapacity. Rather, Joyce depicts him as an agent—responsible for his choices and for the suffering he causes, even if he refuses to recognize it. His cowardice manifests in self-neglect and in the harm he inflicts on those around him. Physical strength and violence become his final, pitiful resources, effective only against the weakest and most defenseless. His obligations, like his hopes for a better life, resemble overdue bills—counterparts—for which he has failed to make payment.

Illustration: Photograph of a work by Wassily Kandinsky (Russia, 1866 – France, 1944)

Title: Counterparts
Author: James Joyce
Translator: Caetano W. Galindo
Publisher: Penguin / Companhia das Letras

Deixe um comentário