LEITURA DE FICÇÃO E COMUNICABILIDADE

Os seres humanos, pode-se arriscar dizer, desde sempre tentam comunicar-se entre si. Genericamente, esta tarefa, envolve várias ferramentas cognitivas amalgamadas com afetos. A comunicação é imprescindível para a sobrevivência, individualmente e da espécie. E é sempre um grande desafio, pois as pessoas têm considerável dificuldade de “saírem de si mesmas” para interagir com outras. “Sair de si mesmo” implica abandonar temporariamente formas exclusivas, íntimas e pessoais de compreender o que é exterior, uma outra pessoa, grupos de pessoas ou acontecimentos presentes ou passados. Também importa que ao tentar captar e dar sentido para o que se passa em redor a pessoa possa reagir a isto da melhor maneira. Neste movimento serão inevitavelmente incluídos elementos internos próprios do indivíduo que protagoniza a tarefa, o que se consegue é “uma saída parcial de si mesmo”. Isto é muito.

Sempre teve e sempre terá relevância o desenvolvimento de recursos de comunicação. É a chance de aproximar as pessoas quando interagem, melhorando a compreensão do que se passa com cada uma e com coletividades. Não se pode esperar exatidão ou perfeição de compreensão e comunicação, pois há muito de interpretação nestas empresas. Interpretar é uma operação extensamente dominada pela subjetividade de cada um e corrompida por distorções voluntárias ou involuntárias.

Entre os instrumentos viabilizadores da comunicação e da criação de mecanismos úteis à resolução de problemas nas interações humanas estão as capacidades para interpretar o que é dito e para dizer o que se pretende. É fundamental a busca constante de aperfeiçoamento das aptidões de comunicabilidade. Apesar de importarem os enunciados não verbais, o bom uso da palavra é imprescindível. A leitura pode ser um valioso meio de progresso neste campo.

Pode-se ler muitos tipos de texto, mas aqui o destaque é para a leitura de ficção: romances, novelas, contos, dramaturgia e a poesia. Quanto mais ricos em possibilidades, quanto mais bem escritos forem, quanto mais capazes de tratar com profundidade os temas de que se ocupam, mais as obras literárias poderão favorecer a engenhosidade, sofisticação e eficácia nas capacidades de comunicação entre os indivíduos. Certamente conta também o empenho exploratório do leitor ao transitar pelo que lê.

Das leituras que são feitas ao longo da vida uma parte do que se ganhou perde-se, mas outro tanto incorpora-se ao sujeito leitor. Além do que se dá pela comunhão com o escritor há o cultivo de pensamentos próprios, que nem estavam presentes diretamente no texto lido. Navegar nestes mundos pode contribuir para o que se chama comumente de capacidade de empatia (quando se faz o esforço para entender o que se passa com outro, como se fosse o outro, os pensamentos e sentimentos dele). É também um aprendizado para o qual contribui a diligência de se apropriar do que é relatado e não faz parte da experiência vivida pelo leitor. É estímulo para reflexão, que leva a resultados imprevisíveis. Com boas leituras (e elas existem, mesmo que seja difícil defini-las como tais) é possível o alargamento da mente. Com sorte, aumenta a aptidão para a boa convivência, para a verdadeira e nobre política. Com mais sorte ainda pode ser que as pessoas se tornem mais generosas.

O exposto acima é uma opinião e uma esperança, não traduz evidências cientificamente demonstradas com suficiência, embora já existam estudos sobre o tema.

Na ilustração: foto de pintura de Henri Matisse (França, 1869 – 1954)    

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