OS TRÊS REIS DO ORIENTE

“Os Três Reis do Oriente” é o título do último conto de “Contos Exemplares” de Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 1919 – Lisboa, 2004). Mais uma vez sua poesia rearruma-se em prosa, mas sem deixar de ser o que realmente é.

Sophia de Mello Breyner Andresen mostra sempre profundidade reflexiva e beleza formal para falar com um modo próprio do ser humano. Neste conto ela trata da esperança. Palavra que pode ter diversos significados e veículos, mas geralmente guarda alguns elementos comuns a todos eles. A autora caminha por interpretações desta forma de apelo, a esperança, a que recorrem quase todos os indivíduos, diante do que essencialmente lhes falta, quando precisam supor a possibilidade de um mundo justo e, mais fundamentalmente, para o qual haja sentido.

Gaspar, Melchior e Baltazar aparecem na mitologia cristã como os personagens que visitaram Jesus na manjedoura. São figuras relativamente obscuras nas escrituras religiosas “oficiais”. Neste conto eles são homens poderosos de diferentes lugares que tentam entender o que deve ser feito para alcançar o Bem. Talvez encontrar o caminho para encontrar aquele que sabe a verdade, o sentido do universo. Querem alcançar a justeza que não há naquilo que podem experimentar. Sustentam a esperança, sem que saibam precisamente o que podem esperar. Neste processo resvalam em articulam perguntas e deparam-se com fatos contundentes de sua realidade. Consultam os sábios e apercebem-se da idiossincrasia e imperfeição dos saberes. Atentam ao que podem ver. Agem em prol de correções dos malfeitos e de aplacar sofrimentos. Cada um a seu modo dá-se conta da insuficiência do que pode. Ouvem dos que respondem às indagações coisas como “vivemos um tempo de viuvez e todas as coisas se tornaram cegas e surdas” ou “toda a nossa esperança se resolverá em cinza”. Não há riqueza que possa tornar ricos todos os homens. Perdura a falta do que é imprescindível, para além dos bens materiais. Há carência de algo misterioso que repousa provisoriamente nos objetos reconhecíveis da realidade e deles escapa, como obedecendo a uma lei tanto humana como sobre-humana. O sentido final da vida não se revela, perdeu-se para sempre no vazio para onde escoam as cinzas de cada esperança que já ardeu. No entanto, os três persistem na procura da estrela guia que leva ao porvir, onde se constituiu a promessa.

Sob uma certa perspectiva, validando a razão de sua existência, a esperança parece estar em comunhão com a poesia e “o poema não significa, o poema cria.”

Título da Obra: OS TRÊS REIS DO ORIENTE (parte de “CONTOS EXEMPLARES”)

Autora: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Editora: ASSÍRIO & ALVIM (Portugal)

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