ANTES DO BAILE VERDE

É mais fácil falar sobre sentimentos do que os sentir. Relativamente rara é a capacidade de envolvimento que vá muito além das aparências e conveniências, assim como a generosidade verdadeira para com aqueles que estão no lugar dos seres supostamente amados. Comumente o afastamento e uma espécie de indiferença (difícil de analisar) predominam no relacionamento com familiares e amigos que se tornam problema, incluindo os que adoecem gravemente, que sofrem cruamente ou que dão indícios de que estão chegando ao fim.

No conto “Antes do Baile Verde”, que dá título ao livro em que há mais outros 17, Lygia Fagundes Telles (São Paulo, 1923-2022) trata deste tema. Sugere muita coisa numa cena breve e no diálogo curto entre uma jovem e sua empregada doméstica. O pai da moça está agonizante e a filha prepara-se para um baile de Carnaval em que todos devem estar vestidos de verde. Ela concentra-se no acabamento da fantasia, com a qual já está vestida. É imperativo para ela o comparecimento à festa ou sair da casa onde seu pai deve morrer em breve, o que, se sabido, diria coisas bastante diferentes sobre a protagonista. Sem afirmar razões, os atos tomam a cena.

Sabiamente, a autora aponta para as resultantes psicológicas e ético-morais no funcionamento das personagens, renunciando a explicações e julgamentos, sem comentários explícitos enquanto narradora atenta e sútil. Ela faz o leitor ocupar-se de tal tarefa e toca-o com seu olhar escrutinador para o que circula abaixo das superfícies mais palatáveis das descrições do comportamento humano. As incertezas são mantidas à vista, em silêncio.

Título da Obra: ANTES DO BAILE VERDE

Autora: LYGIA FAGUNDES TELLES

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

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