O CAMINHO IMPERFEITO

Caminha-se por onde se vive. Caminha-se também por lugares onde não se vive. O caminhar é sempre imprevisível. Os planejamentos prévios determinam parte das imperfeições do caminhar, algo inerente às tentativas de cumprimento dos projetos feitos. Busca-se conhecer o que não está à vista e ganhar alguma intimidade com o mundo, que não se cansa de crescer. De qualquer modo, viver é um caminhar, é o modo como cada um torna-se o que é e contribui para formatar o que está fora de si. Os trajetos são, de certo modo, finitos, de acordo com nascimento e morte, mas, em outra perspectiva, fazem parte de um tipo de infinitude, quando se fundem à imensidão determinada por outros seres e seus incontáveis mundos.

“O Caminho Imperfeito” de José Luis Peixoto (Galveias, Portugal, 1974) é um livro que rende homenagem às lonjuras do caminhar. Pelo planeta e pelas complexas geografias do pensar. Ele parece inicialmente o que não será ao longo da leitura. Consonante ao que se deu com o escritor durante o processo da escrita, uma ramificação de caminhos brotando uns dos outros. Desde as primeiras palavras não há a cursos lineares, tendem ao engano os apressados em prever o que está por vir. O capítulo inicial (são todos muito curtos e densos no que contêm) faz o leitor pensar numa estória policial ou num enredo com doses de terror: partes de corpos humanos embaladas em caixas seriam enviadas da Tailândia a Las Vegas (EUA), etiquetadas como brinquedos para crianças; mas não chegam a deixar o país de origem. Numa das caixas há um pedaço de pele tatuada. Todavia, o livro oferece algo muito diferente do que se poderia supor por este início. Faz-se um passeio por reflexões do autor, errantes e ricas no que propõem. Um estímulo para que o leitor pense a partir da experiência pessoal e navegue num universo de ideias (próprias e alheias).

Através dos muitos temas que se desdobram, José Luís Peixoto expõe um modo de olhar para o mundo, sempre tão desconhecido às partidas e que obriga a trafegares involuntários. Também aponta para a pluralidade do que se encontra na concretização de rotas voluntariamente desenhadas. Pensa-se primeiro nas viagens a lugares diversos daquele onde se nasce. Já é muito. O autor percorre o planeta em função da publicação de seus livros em múltiplos países, mas importam também outros motivos para que ele vá a sítios desconhecidos e incertos. Contudo, ao ampliar os sentidos de uma viagem e transferi-los para as andanças da mente e aventuras implicadas nas interpretações do ser e do universo que habita é que o livro brilha com mais intensidade e aproxima-se da intenção de uma tatuagem, sem excluir sua contraditória mutabilidade e impermanência.

Título da Obra: O CAMINHO IMPERFEITO

Autor: JOSÉ LUIS PEIXOTO

Editora: DUBLINENSE     

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