“Retrato de Mónica” é mais um dos contos de Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal, 1919-2004) contidos no volume “Contos Exemplares”. Nele a autora fala de um modo de ser, de estar no mundo, valorizado por muitos humanos. Apesar de ela usar um nome feminino, o perfil vale para qualquer adulto vivendo em sociedade. Uma espécie de padrão de comportamento destinado a fins bem pensados.
Os indivíduos também são seres sociais. Mónica, representa a superficialidade na interação com o que a cerca e em experimentar o que talvez exista no seu interior. Valeria uma designação como “futilidade existencial”.
Em grande parte das vezes o sucesso de alguém depende da capacidade de boiar nas superfícies do que vive, de não fazer mergulhos para tratar do que subjaz por ali e menos ainda de falar sobre aquilo que não está tão diretamente à mostra. Imersões poderiam demandar esforços de reflexão e atitudes potencialmente sacrificantes. Nesse espírito convém evitar compreensões mais abrangentes sobre si mesmo e o entorno e o mais além. Do contrário poderia haver desconforto ou dor. Há estratégias necessárias para promover e sustentar posições de certa tranquilidade, algumas vezes apanágios do prestígio nos grupos sociais mais amplos, assim como na imagem pública que as pessoas constroem com cuidado.
Fiel a seus intuitos, Mónica tem que renunciar a três coisas: ao amor, à poesia e à santidade. Afastamento de experiências distintas em muitos aspectos, mas com pontos fundamentais em comum. Pensar sobre os sentidos dessas renúncias e em quê elas se irmanam, está no cerne do conto e parece ser seu tema maior. Um texto curto, que sugere muito.
Abaixo foto de tela de Josef Capek (República Tcheca, 1887 – Alemanha, 1945); pintor e escritor que criou a palavra “robô”
Título da Obra: O RETRATO DE MÓNICA
Autora: SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Editora: ASSÍRIO & ALVIM (Portugal)
