LITERATURA CIENTÍFICA, OUTRAS LITERATURAS E A PASSAGEM DO TEMPO

 

A palavra literatura pode adquirir conotações diferentes conforme o contexto. O que chamamos de literatura científica tem características próprias. Assim, vale estabelecer algumas distinções em relação a outras formas literárias como a ficcional, ensaística, jornalística, poética, biográfica, dramatúrgica, etc. Geralmente, os romances, as peças teatrais e a poesia, são menos sujeitas à deterioração causada pela passagem do tempo, embora isto possa ocorrer.  Temos obras como “Édipo Rei” de Sófocles, “As Metamorfoses” de Ovídio, “D. Quixote” de Miguel de Cervantes, “D. Casmurro” de Machado de Assis, toda a obra poética de Fernando Pessoa, para citar algumas que são atemporais em seus aspectos mais importantes. Ensaios e relatos jornalísticos, mesmo que formalmente sofisticados tendem à tornarem-se “datados”, embora haja exceções. A literatura científica é bastante mais perecível. Em suas variadas modalidades de formatos, temas e áreas, quase invariavelmente, há perda de valor científico específico conforme o tempo passa e o conhecimento se transforma. É possível pensar que um texto científico possa adquirir importância histórica. Todavia, é propenso à perder sua validade para o uso pragmático que a ciência demanda. Isto ocorre, principalmente, devido à expansão e evolução quase contínua do conhecimento, nas ciências. Especialmente quando a informação empírica é a tônica (é bom mencionar que a ciência não se restringe aos saberes gerados pelos métodos empíricos). Um vasto setor do que denominamos ciência depende da observação (e, eventualmente reprodução) de fenômenos, sua descrição, formulação de questões a respeito deles, criação de métodos para responder a estas questões, realização de pesquisas sucessivas, e interpretações de dados. Vale lembrar a experimentação sistemática. Os resultados destes processos tendem a produzir construtos relativamente provisórios. Estão sujeitos a transformações do objeto em estudo e também de quem o estuda, em suas capacidades de captar, gerar e interpretar informações. Para muitas áreas da ciência, de modo crescente, importam as chamadas evidências, que se pretende sejam distintas das opiniões ou crenças (mesmo que estas últimas sejam fruto de observações cuidadosas e dotadas de sofisticação). As evidências são elementos do conhecimento produzidos através de formulação de perguntas relevantes, desenvolvimento de métodos de pesquisa que possam responde-las (muitas vezes experimentação), análise cuidadosa de resultados ou dados, reprodutibilidade (ou explicações consistentes para a não possibilidade de reprodução de achados), e interpretações limitadas ao que possa ser demonstrado através do rigor dos métodos. A especulação tem lugar extremamente restrito e transitório. As evidências estão sempre sujeitas à deterioração e substituição, por serem, em princípio, sempre superáveis por outras, detentoras de maior e melhor informação. Vale sempre lembrar que a literatura científica não esgota, ou pode conter, o todo do conhecimento humano.  Abaixo, foto da Biblioteca Científica de Oberlausitzische, Gorliz, Alemanha

2 comentários

  1. Luís, você sempre nos traz coisas interessantes. É tão prazeroso ler os seus comentário e informações! Mais uma vez, obrigada, pois isso é um presente.

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